O Grande Circo da Adaptação

CRIANÇARTES ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA – MARÇO DE 2008
TEXTO DE ESTUDO 1: O GRANDE CIRCO DA ADAPTAÇÃO

Faltam dez dias para estréia e estamos trabalhando em nossos ensaios finais. Desde que estabeleci o roteiro do espetáculo temos repassado, a cada dia, trecho por trecho, a fim de tornar claro o que pretendemos e como executá-lo, respeitando as idéias fundamentais que deram origem ao nosso circo.
É importante considerar qual a demanda do público que devemos atingir para tentarmos corresponder ao máximo , dentro da nossa forma de ser e pensar.
O grupo parece super motivado, buscando uma sintonia cada vez maior, através da marcação detalhada de cada momento do espetáculo. As duplas de trabalho precisam saber exatamente a hora em que cada uma entra e qual o seu papel, pois disso vai depender a boa perfomance. O pessoal de apoio deve ter muito claro o que se espera deles, desde o cozinheiro, os tratadores dos animais, até os que cuidam dos moveis, colchões, redes de segurança e apetrechos para cada número.
Isso tudo sem perder de vista as nossa responsabilidades comuns como membros de uma trupe que tem na vida de circo a nossa fonte de trabalho e realização. Cada um com seus problemas, limitações pessoais, mas formando um todo coeso, trabalhando por um mesmo objetivo. É natural que existam diferenças individuais, alguma competitividade e até rivalidades, mas tudo tem seu peso e seu valor.
Coisas de artistas…
E graças a Deus mesmos artistas, criativos, explorando ao máximo suas aptidões na elaboração de seus números. Todos têm de tudo um pouco: são mágicos, palhaços, acrobatas, trapezistas, domadores…
E o nosso público? Em geral são pais que levam seus filhos depois de pesquisarem em jornais, na TV ou mesmo pela indicação de amigos. Compram seus ingressos quase sempre com antecedência e aguardam ansiosamente o grande espetáculo. E as crianças? Puxa! É aquela expectativa, aquela tensão de mudar a rotina, às vezes até tirando uma soneca antes para agüentar bem toda a programação. Na hora em que chegam ao circo parecem borboletas, querem ver tudo de perto, mexer descobrir os truques e só sossegam quando sentam para comer uma pipoca ou um algodão-doce.
E eu? Eu gosto mesmo do trabalho nos bastidores, mantendo o clima e o ânimo geral. Mas nos dias de estréia tem um número que eu gosto de fazer pessoalmente; o do equilibrista dos pratos sobre varetas! Além de gostar, é um desafio que me atrai, me instiga e me ajuda ainda a lidar com meus próprios limites. Com muito treino, tenho me saído bem, mas às vezes algum prato quebra. Na hora é tenso, difícil, mas logo procuro um brecha para repô-lo e o público aplaude sabendo que esta manobra é ainda mais delicada do que apenas mantê-los girando!
Nos momentos de suspense, como Salto Mortal, o Globo da Morte ou as feras ameaçando o domador, gosto de ficar olhando pelo canto da cortina a reação das pessoas lidando com seus medos e aflições. Depois relaxam, aliviadas, quando constatam que existe firmeza e domínio em cada um daqueles profissionais.
E o nosso nervosismo? Também é grande e acho até saudável, tendo em vista a seriedade de nosso trabalho e o compromisso que temos com nosso público. É por isso que costumamos avaliar cada espetáculo em seu final, para termos a chance de estar sempre nos aprimorando.
Pronto! Chegou a hora! O escuro, o silêncio e finalmente: Respeitável Público!!
Marta Villares Musetti de Campos, in: Adaptação Pais, Educadores e Crianças
Enfrentando mudanças. Cadernos Pedagógicos. SP