Ensaio sobre a psicologia da criança

ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA DA CRIANÇA

*Celso de Souza Cunha

APRENDIZAGEM

No seio da família ocorrem as primeiras aprendizagens da criança e a mais significativa de todas, a aquisição da linguagem simbólica, o mais importante fator cultural, o instrumento que permitirá a essa comunicar-se com os semelhantes, externando-lhes suas necessidades, seus desejos, suas maneiras de ser, de pensar, sentir e agir.

O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO

Nos primeiros meses de vida da criança, os pais procuram satisfazer as necessidades viscerogênicas (fisiológicas) da mesma. Em contato com ela os pais a aprovam ou a reprovam, por meio de afeto, beijos, resmungos etc. A criança aprende então a reconhecer pelo rosto dos pais seus estados emocionais.

A partir dos 3 meses, já imita os gestos das pessoas que a cercam, e essa imitação vai se tornando mais acentuada à medida que convive com mais pessoas. A imitação sistemática de alguns sons que ouve ocorre a partir dos 5 meses. Essa imitação será uma constante no desenvolvimento da criança, acentuando-se bastante depois dos 3 anos de idade, quando passa a viver no seu grupo de brinquedo.

Ao lado da família, é a escola o outro grande agente cultural. A educação sistemática não só trabalha normas sociais como desenvolve as habilidades do sujeito/indivíduo, num processo de renovação cultural constante.

Participando de atividades escolares, culturais e esportivas, convivendo com grupos de colegas de ambos os sexos, impondo e admitindo ordens, o sujeito/indivíduo organiza seu sistema de valores culturais.

O RECÉM-NASCIDO

Acostumada a uma vida calma e sem trabalho, onde não havia nem variação de temperatura, a criança, ao nascer, tem uma dolorosa experiência. Há um bombardeio de excitações e perturbações que terá de suportar. Como conseqüência lógica de tal esforço, dormirá ¾ do seu primeiro dia.

O grito é a primeira reação da criança em seu novo ambiente. Vai sentir a mudança de temperatura e do tipo de nutrição. Os sistemas respiratório, digestivo e excretor não funcionam antes dela nascer. Após a destruição da placenta é que ocorre a modificação radical nos sistemas respiratório e circulatório, passando da vida fetal à natal, acarretando uma notável perturbação no organismo constatada até 30º dia.

Conclui-se que o nascimento representa uma dolorosa experiência para a criança, mas que é perfeitamente suportável.

*Psicopedagogo, Pedagogo, Terapeuta Familiar Sistêmico, Psicodramatista, Ator/Bonequeiro, Orientador e Supervisor Educacional, Especialista em Educação Profissional, Mestre em Educação e Professor de Yoga.

As reações, as respostas do recém-nascido, visam satisfazer principalmente as necessidades fisiológicas. São necessidades básicas que independem de cultura que levam a ajustar-se ao ambiente. São elas, nos primeiros meses:

  • ·Orgânicas – necessidades de alimento, água, ar, conforto etc;
  • ·Amor maternal – calor humano e estimulação de várias partes do corpo, principalmente órgãos dos sentidos;
  • ·Atividade – dar vazão à energia acumulada;
  • ·Repouso – se recuperar da atividade;
  • ·Regurgitação (vômito) – devido a sensações desagradáveis;
  • ·Evitar a dor etc.

COMPORTAMENTO

Traços que aparecem no nascimento ou logo após:

  • ·Reflexos provocados por estímulos de dentro do organismo (espirro, choro, soluço, bocejo, micção e defecação); provocados por estímulos externos (movimentos de recuo e defesa, rejeição, como de sabores desagradáveis, apreensão); provocados por estímulos algumas vezes internos e outras externos (movimentos de cabeça, das mãos, dos braços, das pernas e dos pés, sorriso); respostas orgânicas (obtenção de alimento que começa com a sucção, sede, emoção, tanto agradável como desagradável); fontes da linguagem e habilidade (vocalização, manipulação e exploração visual).

Os reflexos são reações não aprendidas e inerentes à espécie.

A partir de um mês de vida o bebê já tem regularidade nas atividades circulatória e respiratória e a temperatura do corpo se instabilizou. Começa a perceber melhor os estímulos externos e executa movimentos com a cabeça e as mãos. As suas reações emocionais começaram a se diferenciar e dentro de pouco tempo brincará e tentará imitar os sons que ouve. Rapidamente se desenvolvem as atividades neuromusculares.

Em seu desenvolvimento a criança passará por várias fases distintas, nas quais os interesses, os pensamentos e os sentimentos serão qualitativamente diferentes. Por exemplo, aos 2-5 anos a conduta infantil se caracteriza pela oposição (fase do não-não ou crise da oposição, segundo Wallon) e aos 6 anos pela colaboração com os familiares e amigos do seu grupo de brinquedo.

Aos pais e educadores, a primeira e a segunda infância são duas fases muito importantes, porque nesse período há a estruturação das reações motoras e emocionais básicas.

O CRESCIMENTO FÍSICO E O DESENVOLVIMENTO MOTOR

Quando a criança é capaz de sentar-se no berço (8 meses), o seu campo visual se torna cada vez maior e as percepções dos objetos mais precisas. Entre 10 e 15 meses, andará e todos os seus movimentos estarão na dependência do trabalho conjugado das mãos. Aos 3 anos, todos os movimentos e a locomoção estarão mais ou menos coordenados.Poderá orientar-se em seus passos com precisão. `

À medida que a criança se locomove, vai ampliando seu campo de ação. E o conhecimento dos objetos que a circundam decorrerá principalmente das percepções visuais e táteis.

Existe uma interrelação entre no desenvolvimento de várias atividades motoras. A partir do momento em que a criança percebe melhor, alcança com maior facilidade os objetos; o trabalho conjugado das mãos permite erguer-se eficar de pé apoiada na grade do berço(10 meses), enquanto o contato com os objetos e o respectivo condicionamento lhe permitirá coordenar os movimentos do polegar e do indicador em forma de pinça. Quando for capaz de se equilibrar e andar sozinha, não só apanhará objetos com maior facilidade como também “trepará” em móveis, passando a observar de diferentes ângulos o meio em que vive.

A partir de 2 anos, a manipulação adquire maior destreza. Será capaz de folhear um livro, riscar um papel, abrir caixas pequenas e fazer castelos e casas com pequenos tijolos de madeira.

O desenvolvimento da linguagem permitirá a integração no grupo de meninos e meninas de sua rua ou escola, não havendo mais tanta necessidade de se comunicar através de sinais ou gestos objetivos. Com a linguagem, o equipamento muscular será utilizado de modo mais econômico e racional.

Entre 4 e 6 anos, tornam-se mais organizadas as atividades motoras, em virtude das múltiplas experiências da criança e da maturidade. Nessa idade mais ativa que realizadora.

OS JOGOS

As crianças, através dos jogos, reproduzem as atividades dos adultos, razão pela qual são eles muito variados e estão ligados ao tipo de vida social do meio em que elas vivem.

Os de ação são sempre coletivos e é através deles que se estabelecem as relações e as normas sociais do grupo de brinquedo. Assim, além de favorecer o desenvolvimento muscular, os jogos influem sobre todos os aspectos da personalidade.

O jogo é enfim, um meio através do qual o organismo despende energia exercitando-se. É ele um estimulante do crescimento e permite a realização de muitos atos imaginados pela criança.

O JOGO DE EXERCÍCIO

Não pressupõe o pensamento nem uma estrutura representativa especificamente lúdica: o simbólico, que implica a representação de um objeto ausente; o jogo com regras, que supõe relações sociais ou interindividuais e que é uma regularidade imposta pelo grupo. Assim, o jogo simbólico pode incluir exercício; o com regras pode englobar detalhes do jogo de exercício e do simbólico.

Segundo Piaget, há jogos de exercício intelectual e jogos simbólicos. No primeiro caso, por exemplo, “a criança se diverte em fazer perguntas pelo prazer de perguntar ou em inventar uma narrativa que ela sabe ser falsa pelo prazer de contar”. Quando a criança atribui à sua boneca ações análogas, temos um exemplo de jogo simbólico.

O jogo simbólico permite a criança assimilar o real aos seus desejos.

Os jogos de imaginação reproduzem todo o vivido, mas por representações simbólicas. Trata-se de uma “afirmação do eu por prazer de exercer poderes e de reviver a experiência fugitiva”.

A assimilação pela ficção simbólica se prolonga em combinações compensatórias com a catarse.

Dos quatro aos sete anos há uma ordem relativa de construções lúdicas e há a preocupação da imitação exata do real.

DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL

Antes de tratarmos do desenvolvimento emocional da criança, vamos distinguir emoções de sentimentos.

As emoções e sentimentos estão ligadas as necessidades humanas. “As emoções são reações mais simples relacionadas com a satisfação e insatisfação das necessidades orgânicas (alimento, água, ar, repouso etc) também cores, odores, sons (sensações agradáveis e desagradáveis) causam reações emocionais.

Os sentimentos estão mais relacionados com as necessidades que surgiram no curso do desenvolvimento humano. Surgiram das relações sociais e das necessidades culturais (posse, ordem, reconhecimento, obediência, exibição, liderança etc)

As emoções básicas se modificam em virtude da maturação e da aprendizagem e está última exerce um importante papel no desenvolvimento emocional da criança.

A família, a escola e demais instituições sociais que exercem influência direta sobre as crianças, as levam a adquirir certos sentimentos e a reprimir outros adquiridos em diversos espaços.

O DESENVOLVIMENTO DAS PERCEPÇÕES, DA ATENÇÃO E DA MEMÓRIA

  • ·PERCEPÇÃO – conhecimento que temos dos objetos ou dos movimentos por contato direto e atual. Processo que nos permite tomar consciência dos objetos e suas qualidades.
  • ·ATENÇÃO – processo pelo qual o indivíduo concentra sua atividade mental em determinado objeto, isolando-o, afim de melhor analisá-lo.
  • ·MEMÓRIA – processo de retenção de experiências, funções ou movimentos, bem como a reprodução dessas experiências,funções ou movimentos, pela evocação ou pelo reconhecimento.

As percepções desenvolvem-se nos primeiros meses de vida à medida que se estabelecem os reflexos condicionados. As primeiras percepções são inconstantes e inexatas em relação às diferenças entre os objetos.

Como as percepções decorrem das relações da criança com os objetos, fenômenos e pessoas, a medida que ela toma contato com os seres que a cercam, vão seformando os reflexos condicionados e se tornarão mais adequadas as suas percepções.

  • ·ESPACIAIS – aos 8 meses quando a criança se senta e tem um campo visual mais amplo. Com 15 meses, devido a locomoção, toma mais contato com os seres que existem em seu ambiente e suas percepções passam a ser qualitativamente superiores. Estão mais ligadas as suas ações (vê um objeto e dirige-se a ele, o toca e manipula).

Nas percepções de tamanho, distância e tempo é comum as crianças se enganarem. A utilização exata de conceitos como ontem, amanhã, antes e depois na maioria dos casos se observa por volta dos 4 anos. A apreciação de espaços de tempo como hora e meia hora, quinze minutos, embora não de todo perfeita, ocorre a partir de 6 anos.

  • ·ATENÇÃO – fatores da atenção: a intensidade das excitações (um ruído forte), a sua subtaneidade (qualquer súbita alteração ambiental), a sua novidade (um ruído de natureza desconhecida), o interesse imediato (o odor de um bom prato) e ointeresse convencional (quando a atenção é voluntária).

A atenção da criança é inicialmente involuntária. O fator que predomina na atenção é o conjunto de estímulos externos. Objetos brilhantes ou com cores fortes (vermelho, azul, etc), movimentos e sons alternados chamam atenção da criança. A partir do 6º mês, começa a observar melhor, a atentar para os objetos que a cercam e em geral os leva a boca. Por volta dos 10 meses, a atenção começa a ser dirigida às palavras e gestos dos adultos. Aos 15 meses, em virtude da locomoção, a criança presta atenção e indaga acerca de muitos objetos em seu entorno. Além de atentar, os toca e os manipula.

Por volta dos 2 anos, começa a aparecer a atenção voluntária, que é produto em grande parte das imposições dos adultos que exigem das crianças atenção e cuidado consigo, com suas roupas e com objetos do lar.

Na idade pré-escolar a atenção se caracterizará pela inconstância. Dificilmente as crianças atentam para os objetos.

Para alguns estudiosos os jogos das crianças de 3 anos não duram mais que 20 ou 25 minutos, enquanto os das de 6 anos podem durar uma hora ou mais.

O jogo, os trabalhos manuais, a música, a dança, o desenho e a pintura são meios indispensáveis na formação do hábito de atentar.

  • ·MEMÓRIA – “A quantidade do que a pessoa se recorda no curso do seu desenvolvimento intelectual é muito grande; mas também é impressionante o número de experiências que prendem sua atenção por algum tempo e das quais ela depois se esquece”. O esquecimento das experiências passadas é maior em relação aos e 3 e 4 primeiros anos de sua vida. Isto em virtude da maturação do sistema nervoso, do desenvolvimento das habilidades, dos novos interesses etc. As percepções mais definidas e a atenção melhor dirigida têm um papel muito importante na memorização.

Crianças de 3 a 4 anos não são capazes de atentarpor muito tempoe mesmo nos jogos distraem-se muito; as de 5 ou 6, percebem melhor as sutilezas do jogo, atentam por mais tempo aos fatos acontecidos no decorrer do mesmo.

A memória passa desenvolver-se bem a partir do 5º ou 6º mês, quando já são possíveis as conexões reflexas condicionadas entre todos os analisadores corticais. A criança memoriza a voz, o rosto e as expressões das pessoas, e quando as vê, sorri. Com 1 ano dirige seus olhos para um quadro de bebê, quando é pronunciada a palavra bebê ou nenê. Nessa idade, qualquer objeto conhecido é lembrado pelo seu nome.

Durante a primeira infância (até 3 anos), a memória é involuntária. Existe apenas a memorização daquilo que tem importância momentânea para a criança e que seja marcado por um certo tom afetivo.

A memória voluntária é notada a partir de 4 anos, período em que a linguagem já está bem desenvolvida e a participação nos jogos infantis é bem maior. Segundo pesquisadores, as crianças fixam mais palavras quando jogam do que quando têm que retê-las em “decoreba”.

O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO, DA IMAGINAÇÃO E DA INTELIGÊNCIA

PENSAMENTO

O pensamento deve ser entendido como um processo através do qual tentamos organizar a experiência; A imaginação, como a “reorganização de dados procedentes de uma experiência passada e de uma experiência ideacional presente”; e a inteligência como a capacidade de adaptação às novas situações com eficiência e originalidade.

O pensamento está indissoluvelmente ligado à linguagem. Nos primeiros anos de vida, a criança pensa enquanto atua. Ele não precede a ação e está totalmente voltado às experiências presentes.

A aquisição da linguagem é um fator importantíssimo no desenvolvimento do pensamento. Permite que a criança assimile muitos conhecimentos generalizados pelos adultos e possa pensar e imaginar com maior desenvoltura.

Inicialmente, “o pensamento infantil tem um caráter prático concreto acentuado”. A criança não é capaz de pensar senão nas coisas com as quais trava relações. O pensamento surge ligado à prática.

Na idade pré-escolar, o pensamento está voltado às causas da existência dos objetos e fenômenos. É a fase dos “porquês” e “para que”. Com 5 anos,a criança pode utilizar certos conceitos abstratos nos seus juízos e apontar certas diferenças entre objetos e animais.

O conceito de constância do número de objetos. A criança o adquire (Piaget) entre 7 e 8 anos. O de constância de peso entre 9 e 10 e o de conservação de volume entre 11 e 12 anos.

IMAGINAÇÃO

As primeiras manifestações da imaginação aparecem aos 2 anos. A criança imagina objetos (que geralmente leva à mãe) e ações (das quais ela é personagem principal).

Aos 3 anos é comum imaginar-se um bebê e deitar-se na cama do irmãozinho. Ao ouvir uma história é capaz de completá-la.

Aos 4 anos, a criança começa a tomar certa consciência de que existe algo de irreal em certas histórias que lhe contam.

Aos 5 e 6 anos, a menina se imagina dona-de-casa, costureira, enfermeira, médica, professora etc; e o menino motorista, médico, mecânico etc. A imaginação da criança trabalha com os elementos fornecidos pela vida dos adultos. Pouco a pouco começa a se apoiar mais nas experiências diárias, sendo que o jogo e as atividades construtivas (trabalho, pintura etc) favorecem sobremaneira a educação da imaginação criadora.

A imaginação infantil se distingue da do adulto pela incapacidade da criança em distinguir eficientemente o possível do impossível. As explicações fantásticas que as crianças dão a muitos fenômenos não decorrem do fato de ser a imaginação infantil mais desenvolvida que a do adulto, mas sim porque desconhecem as leis objetivas do mundo e conhecem pouquíssimo a realidade. Também se distingue até 3 anos, por uma maior submissão às percepções. Quando começa a desenhar, não sabe bem o que fará, não tem um plano, um projeto definido. Depois dos 3 anos é que pensa o que vai desenhar e procura transportar ao papel imagens de coisas que viu ou manipulou.

INTELIGÊNCIA

É a capacidade de resolução de problemas de uma pessoa. Engloba capacidade inata para aprender, para pensar de modo abstrato, vivacidade metal, raciocínio seguro, equilíbrio emocional e adaptação geral.

A palavra inteligência consiste em várias habilidades: visual (ou espacial), perceptiva, numérica, de relações verbais ou lógicas, de fluência em lidar com palavras, de memória, indutiva, dedutiva e de limitar a solução de um problema.

Resumindo, inteligência é a capacidade do indivíduo para se adaptar às novas situações com eficiência e com certa originalidade.

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

A Linguagem pode ser definida como um sistema de sinais que permite a comunicação entre os indivíduos de uma mesma espécie.

Períodos do desenvolvimento da linguagem

Pouco tempo após seu nascimento, a criança expressa, através de gritos, o seu mal-estar. Esses gritos por volta do 2º mês vão sendo substituídos por sílabas. É o início da fase de desenvolvimento da linguagem chamada balbucio, na qual a criança pronuncia sílabas e as repete com certa constância. O balbuciar é “provavelmente devido a estímulos intra-orgânicos e ocorre especialmente depois das refeições, ao acordar de um sono etc.

O terceiro estágio de desenvolvimento da linguagem geralmente começa no segundo semestre de vida da criança. É o da imitação dos sons. Condições orgânicas levam a criança a dar uma resposta motora, que resulta num som. “Concomitantemente ouve o som da própria voz, de forma que a experiência auditiva se torna o estímulo condicionado, provocando, a mesma uma resposta motora”.

Do 8º ao 9º mês pode a criança imitar sons produzidos pelas pessoas com as quais convive. Por volta do 12º mês, tem início o estágio da compreensão verbal. A criança responde com movimentos controlados aos sons que ouve. Nessa idade o vocabulário infantil ainda é bem reduzido.

Na linguagem infantil os substantivos aparecem em primeiro lugar; os verbos são utilizados inicialmente no infinitivo e só mais tarde as partículas são empregadas. Os substantivos utilizados pelas crianças, tem a função de uma frase (Lukens), como “mamã” (mamãe vem aqui), “papá” (papai está aqui), “dá” (quero o que você tem na mão) etc. As palavras pronunciadas por elas tem sentido de frases completas como as exclamações “fogo”, “ladrão”!

A frase gramatical que aparece entre o 20º e 22º mês é formada mais ou menos ao acaso. Aos 24 meses a criança fala de si mesma na 3ª pessoa: “o nenê quer papá”.

Entre 2 e 3 anos o arranjo de frases, vai tornando-se mais complexo. Nesse período a criança compreende as situações em que se encontra. O monólogo é o seu processo favorito e sobretudo fala agindo.

A linguagem egocêntrica e a socializada

A linguagem infantil pode ser dividida em egocêntrica (a criança não dá atenção ao que fala ou se alguém a escuta) a socializada (ela se dirige ao interlocutor para trocar idéias, indagar ou comunicar suas ações). Sendo a linguagem um instrumento de cultura, que a criança tem que adquirir, é evidente que aprende a manejá-lo visando sua adaptação ao meio. Assim, observamos algumas características egocêntricas. À medida que entra em comunicação mais duradoura com os adultos e com outras crianças (a partir dos 2 anos, principalmente) a sua tendência é para refletir atravésda linguagem modos de pensar e falar das pessoas com as quais convive.

O vocabulário infantil

O período em que existe maior aumento na extensão do vocabulário infantil é o compreendido entre o 2º e o 4º ano. É entre 2 e 3 anos que os interesses glóssicos predominam sobre os demais. È o período em que a criança liga as palavras, forma frases completas (no sentido gramatical) e inclusive brinca com as sílabas que conhece, inventando palavras.

O DESENVOLVIMENTO DOS HÁBITOS NAS CRIANÇAS

Os hábitos podem ser identificados como reações adquiridas relativamente invariáveis e facilmente suscitadas. As ações como andar, falar, correr, escrever, ler, dirigir automóveis, digitar, vestir-se etc. são hábitos, reações adquiridas pelo organismo no meio em que vive.

Nas relações entre indivíduo e o meio existe uma associação entre um estímulo e uma resposta, e essa associação é aprendida. Ex: Quando um animal sentia o pó de carne na boca salivava.Essa reação era natural, incondicionada, inata. Porém, se antes de darmos o alimento ao cão, o impressionamos várias vezes com estímulos luminosos. Essa reação, esse reflexo adquirido, recebe o nome dereflexo condicionado e demonstra que o animal retém a associação entre um determinado estímulo e a sua correspondente resposta.

Nas crianças os reflexos condicionados são altamente instáveis e podem extinguir-se rapidamente. “A idade da criança e as particularidades individuais do seu sistema nervoso são os fatores responsáveis pela variação de rapidez entre elas no estabelecimento dos reflexos condicionados.

O desenvolvimento de hábitos

Os primeiroshábitos da criança decorrem das relações estabelecidas com os objetos que lhe são familiares, objetos que manipula e constantemente leva à boca. Também a imitação dos gestos dos adultos, bem como dos sons que ouve, provoca o aparecimento de hábitos como falar, andar, vestir-se, sentar-se etc.

É a partir da 2ª metade do 1º ano de vida que se estabelecem com maior regularidade as respostas condicionadas, mas a perfeição funcional só são atingidos a partir de 2 anos. Entretanto, aprendizagem da criança na 1ª infância tem suas características específicas: ela se cansa rapidamente e perde o impulso para executar certas tarefas adapta-se ao ambiente com facilidade; apresenta rápidas mudanças de crescimento ou maturação; não tem um controle voluntário, de caráter social das suas ações.

À medida que se desenvolve, passa a ter não só novos hábitos como mais duradouros. A idade e o desenvolvimento intelectual são fatores que ao lado do treino, respondem pela fixação dos hábitos.

Durante a 1ª infância, o comportamento infantil é em grande parte orientado por motivos fisiológicos (repouso, eliminação dos resíduos orgânicos, atividades, alimentação etc). Até a idade de 3 anos há conseqüentemente a maior formação de hábitos decorrentes das experiências que teve para satisfazer suas necessidades fisiológicas. Ao final do 3º ano se sente “vitoriosa na luta contra os diametralmente opostos”. O negativismo, a contrariedade, perde terreno para a sociabilidade. Se torna afável e procura acercar-se dos adultos, indagando como agir ante certas situações. Ao lado dos motivos fisiológicos, os sociogênicos começam a despertar e sustentar a conduta infantil. Como decorrência dessa disposição afetiva, as suas experiências serão bem maiores e os hábitos mentais, afetivos e motores se multiplicarão.

Entre os hábitos mais importantes da 1ª e da 2ª infância podemos destacar:

1.O controle da micção diurna, que é adquirido entre 18 e 24 meses. O da noturna, que ocorre a partir do 2º ano.

2.O controle das evacuações entre 18 e 24 meses. Idas ao vaso sanitário adaptado à sua idade.

3.Entre 2 e 4 anos, estabelecem-se hábitos com os de comer, de repousar, o de asseio, de brincar, o de ver revistase livros, os de exercícios esportivos, de delicadeza e de atenção.

4.Também nesse período são reforçados os maus hábitos, cujas causas devem ser conhecidas para se processar o descondicionamento. Entre outros temos: o chupar de dedos e de lábios, o roer de unhas, o ranger de dentes, o comer pouco.

5.Os tiques nervosos, originados por ajustamento não de todo normais, se transformam, à força de repetição em hábitos.

6.Aos 5 anos já deve estar habituada a calçar meias e sapatos, a banhar-se e a pentear-se.

REFERÊNCIABIBLIOGRÁFICA:

  • ·BARRY, J.W. – INTELIGÊNCIA E AFETIVIDADE DA CRIANÇA NA TEORIA DE PIAGET, São Paulo, Pioneira, 1993.
  • ·PIAGET,J. – A FORMAÇÃO DO SIMBOLO NACRIANÇA – IMITAÇÃO, JOGO, IMAGEM E REPRESENTAÇÃO – Coleção Ciências da Educação, Editora Zahar.
  • ·PIAGET, J & SZEMINSKA, A. A GENÊSE DO NÚMERO NA CRIANÇA – Coleção Ciências da Educação – Editora Zahar.
  • ·MAHONEY,A.A. & ALMEIDA, DE R,L. (Orgs.) – A CONSTITUIÇÃO DA PESSOA NA PROPOSTA DE HENRI WALLON – Edições Loyola.
  • ·WINNICOTT, D.W – O BRINCAR E A REALIDADE – Ed. Imago.
  • ·GROLNICK,S. A. – WINNICOTTTRABALHO E O BRINQUEDO – Ed. Artes Médicas.
  • ·DORIM,L. – PSICOLOGIA DA CRIANÇA -São Paulo, Editora do Brasil.
  • ·PIAGET, J – A CONSTRUÇÃO DA INTELIGÊNCIA NA CRIANÇA – Ed. Artmed.
  • ·FARIA,R.A – O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE SEGUNDO PIAGET – Editora Ática.